outubro 16, 2006

Os carrascos da memória ferroviária

Fosse vivo Fontes Pereira de Melo e cobriria de ridículo o bando de indigentes que tão-somente resolveu ignorar as comemorações dos 150 anos do caminho-de-ferro português. E contrariamente ao que se possa pensar, este tipo de linguagem é, até, muito complacente face à dimensão do sucedido.
Exceptuando o documentário do jornalista Paulo Costa que será exibido a 26 de Outubro na RTP, três dias antes da data em que se assinala o tricinquentenário sobre a inauguração do troço Lisboa-Carregado, tudo o resto não passam de iniciativas balofas. E se a REFER ainda procura convencer-nos de que as actividades que tem vindo a desenvolver – alguém deu por alguma coisa? – são as mais adequadas e fazem justiça ao momento, a CP nem esse esforço faz. Herdeira de um passado histórico glorioso, a transportadora nacional optou antes por “ver passar a carruagem”. Comportamento típico de quem despreza a memória colectiva e acha que o que faz está bem feito. É o apedeutismo em todo o seu esplendor…
E, já agora, o que dizer do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações que desde o início do ano promete divulgar um programa de comemorações que ainda ninguém conhece? Fraca gente esta a quem foi confiada a tarefa de fazer dos 150 anos do caminho-de-ferro português mais do que um dia de festa. Mas, também, um momento de homenagem a todos aqueles que, como disse Jorge Palma, “desde o princípio do sonho (…) construíram, têm vindo a construir, a tornar realidade, e à volta do qual tantos outros sonhos, os nossos – os dos viajantes – se foram concretizando”.

PAULO VILA

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