janeiro 26, 2004

Até o Governo se envergonha de andar de comboio

A sensibilidade deste Governo para relançar o transporte ferroviário em Portugal, está demonstrada, só é comparável à de um bacalhau! Já que, quanto ao resto, aquele peixe sai a ganhar em tudo, desde logo porque é mundialmente apreciado e faz parte da gastronomia milenar.
Vem esta comparação a propósito de um pequeno texto publicado no jornal Público, no dia 18 de Janeiro, que dava conta de uma “viagem de comboio que foi anulada”. Contava então o jornalista que a deslocação de um grande “cardume” de ministros, secretários de Estado, assessores e seguranças à vila de Óbidos, para a reunião do Conselho de Ministros, “esteve prestes a fazer-se em comboio, tendo a CP chegado a preparar uma composição especial com carruagem VIP e salão restaurante...”. Acontece que aquela circulação foi anulada porque Suas Excelências optaram por fazer a viagem de carro, pela A8, dado assim mais legitimidade a iniciativas como o “dia europeus sem carros” e outras “tangas” do género.
É claro, sabemo-lo, o que levou ao cancelamento da viagem de comboio não foi nem a falta de tempo nem a falta de condições das carruagens. Estava até prevista uma reunião preparatória a bordo! Foi, isso sim, o facto de o trajecto ser feito pela linha do Oeste, troço que serve, entre outros, a vila de Óbidos. E isso, o dr. Durão Barroso não quer presenciar. É preferível e, também, mais fácil continuar a alimentar a ideia de que se está a construir uma verdadeira “rede ferroviária para o século XXI”, com a instalação em Portugal do TGV. Nada de mais errado! O futuro prová-lo-á mas, nessa altura, será já demasiado tarde para julgar estes e outros senhores por eventuais crimes por negligência.
Como todos os outros que o antecederam, este Governo não está disponível para discutir seriamente o que se quer com o transporte ferroviário português, nomeadamente com a rede convencional, nem, muito menos, para investir na sua modernização. O que se passou no último sábado é a prova disso mesmo, mas não só! É, também, a prova de que até o Governo já sente vergonha das condições em que se encontra a maior parte da rede ferroviária portuguesa.

PAULO VILA

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