fevereiro 19, 2004

A CP engana o Governo e o Governo engana os trofenses

No dia 15 de Fevereiro, através de uma notícia do jornal PÚBLICO, voltaram a ser referidas as razões porque, em Junho do ano passado, a CP decidiu suprimir a paragem do comboio internacional 421 na Trofa. Na resposta a um requerimento apresentado pelo deputado comunista Honório Novo, o Governo esclareceu então que tal decisão se deveu ao facto de a CP “ter reformulado a oferta internacional no eixo Porto-Vigo, no sentido de possibilitar aos clientes oriundos dos dois pólos” viagens mais rápidas. Por conseguinte, foram “suprimidas algumas paragens para este tipo de tráfego onde se inclui a estação da Trofa”.
É claro que, na resposta a Honório Novo, o Governo não fez mais do que transmitir (de forma cúmplice?) a informação que lhe havia sido prestada pela transportadora nacional. E aqui chegados, temos, portanto, a CP a enganar o Governo e o Governo a enganar os trofenses. E porquê?
Com o actual modelo de exploração que é feito na linha do Minho, e muito especialmente no troço entre Nine e Valença, suprimir a paragem de um comboio com o argumento da diminuição do tempo de viagem é, mais do que uma falácia, um comportamento inaceitável e desonesto. A CP sabe disso, no entanto, insiste em perpetuar a mentira. Para tal, bastará recordar que os comboios inter-regionais, que fazem as mesmas ou até mais paragens que os internacionais que circulam entre Valença e o Porto, chegam a fazer o mesmo percurso em menos tempo!
Quando reformulou o horário do comboio 421, a CP suprimiu as paragens nas estações da Trofa, Nine, Barroselas e Âncora-Praia. Nestas circunstâncias, a viagem entre o Porto e Valença demoraria 2h22m. Com os protestos, a CP reintroduziu, à excepção da Trofa, as paragens naquelas estações. Hoje, a mesma viagem demora 2h23m. Como se demostra, o raciocínio da CP é vão e esconde os verdadeiros motivos da sua gestão. Só assim se compreende por que é que até há bem pouco tempo, por exemplo, os horários internacionais omitiam a paragem dos comboios em estações como Trofa, Famalicão, Barcelos, Barroselas e Âncora-Praia. Admito que um passageiro que olhe para um horário e veja um número tão reduzido de paragens possa ser estimulante e atractivo do ponto de vista comercial, mas a isto chama-se mentira.
O problema, como facilmente se demostra, não está nas paragens. Está sim no constrangimento provocado pela circulação feita em via única e, sobretudo, no tempo gasto nos cruzamentos. Como pode a CP invocar a demora provocada por uma paragem - em média dois a três minutos - se há casos em que, para se fazer um cruzamento, são necessários cinco, sete, dez e até mesmo 12 minutos?! Isto sim, é a verdadeira razão dos atrasos. E assim vai continuar a ser enquanto não se puser fim ao encerramento das estações e, naquelas que ainda funcionam, existir apenas um manobrador para fazer os cruzamentos.
Mas a este despudor e jactância a CP já nos habituou há muito tempo. Fê-lo ainda recentemente quando, para justificar a não paragem dos comboios nos apeadeiros de Cuca, Nespereira e Pereirinha, na linha de Guimarães, alegou o número reduzido de passageiros para fundamentar tal decisão. Como é que se pode fazer uma afirmação destas numa altura em que se está a introduzir um serviço novo, quando sobre o qual não há qualquer indicador estatístico e, mais importante ainda, se está na presença de um serviço incomparavelmente superior ao oferecido antes da modernização?
Assim vai o transporte ferroviário em Portugal.

PAULO VILA